sábado, 22 de dezembro de 2012

EXTANTE(EXTANTE!) - glossário

Milvus milvus
Tive que dar notícia
de que o gavião apareceu.
Precisava falar com alguém
sobre a ave de rapina
que sumira
após longa ausência minha.
Tive que dar asas ao bútio
na minha imaginação
de aldeão, ermitão...
da aldeia que Chagall pintara.

Por onde andara,
voara, planara o gavião,
espécie extante(extante!),
mas fora dos estratos zoológicos
paginados pelos zoólogos?!
( O gavião é parte
do milhão, do milhafre,
do milharal, do milho,  do bútio...
e do milagre!
- que a vida reproduz
sazonalmente(?)
ao atravessar a senda do amor
em chamas de branco
e preto carvão
- apagado sol
no olho que tudo vê
e olha molhado
pelo arroio de aljôfar
diamante "diamantino",
hialino,em Diamantina,
descendo a cachoeira cantante,
cantando em língua de anjo...
corrente na torrente
torrencial,
escorrendo célere
para dentro da flor lilás...
- Que paz
que traz
para tás do monte
que passa
nessa asa,
nesta casa!...
infensa ao mal.)

Aquele gavião sempre aparecia aqui
voava procurando o espelho
na janela de vidro
aonde ia, vinha se mirar,
sem Miró,
com o seu Narciso
espelhado no corpo da fêmea
que para ele deveria ser
a visão de seu próprio corpo
em reflexo no vidro
no jogo sombrio
debaixo do sol.

- Ah! a fêmea desejada, sofregamente! :
  anel, anelo...
- belo elo, o anelo,
ao anilar o sol
o céu febril em anil
pintado no impressionismo
e em ninho (em coníferas?!)
do gavião em estrídulo "pinhé",
ou "pinhém", a consonar
com a "prosódia" dada ao ouvido
que bate o martelo na bigorna
na oitiva da oitava
proveniente do onomotopaico bútio!...

Sumiu uns tempos,
nem sei se é o mesmo rapinante
de antes de ontem ;
não deixou notação para o ornitólogo
que fez apontamentos vãos
nos desvãos das escadarias
que levam os passos
do senhor dos passos
e dos demais passantes:
itinerantes demônios
nas dobras das sombras
fugidias como o dia
que se refugia
na noite em anúncio de borrasca.
Em muitos atos
o gavião não é objeto da ornitologia
nem tampouco da zoologia :
o gavião só é objeto abjeto
quando dos atos do ornitólogo
passa a ser objeto científico,
sem objeção ;
entrementes, quando rasga o véu do céu
em rasto medido no anil
ou no plúmbeo das pombas
e das nuvens peregrinas,
desmancha a mancha do objeto
abjeto da ciência
com seu manche,
sem revanche ou avalanche
de temperamento odiento,
ao qual não cura
nem descura unguento.

- Seria o búteo em voo rascante
objeto não abjecto do abeto?!
( A ave rapaz
está fora do tempo do verbo
conquanto voe rasante,
grite rascante,
para dentro da ideia
que é uma das formas do tempo
em senóides em "o Grito",
de Munch na ponte
ou na forma dada pelo geômetra
ao mensurar o espaço
sem vácuo mental,
na forma da vaca
a ruminar a ideia
do búteo em táxon
ao pensamento de Platão
em geometria de rascunhos
- dos debuxos de Euclides.
Outrossim, o gavião em tela,
não foi achado achatado
na determinação do artigo
definido e definindo o finito
que leva à ideia
ou ao ideário
a determinação deste artigo
definido definitivamente
na definição gramatical
apta a exprimir o indivíduo
e mais que o indivíduo
- a individualidade
 ou individuação do ente,
que deixa entrever o ser
na ameixa plantando a sombra
nas madeixas da bela
e no bútio planando
ao vento que cata penas
nos cata-ventos e nas palmeiras
espalmadas contra o céu.
O búteo está no tempo da intempérie,
arremessado pelo vento
da procela que procede do latim
e precede o tempo abstrato
que permite que ao gavião
voar no ar com as procelárias
em bando fictício,
no verbo que não faz o vôo,
mas o expressa pressuroso,
e em natureza com alma,
que move e é o motivo da vida,
motivo floral,
aonde Deus move o espírito,
em luz dentro do cérebro,
no mesmo tempo ou ritmo
do ato com asa dos búteos biltres
em dueto de asas abertas à ventania
ao sopro de Éolo no moinho
rodando a paz das pás
nas pás e nos ananás...
até que o presbítero, o prelado
cante com corda
vocal para violino :
 "Sursum corda!").
 Milhafre-preto em voo
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